Ouro Fino a Borda da Mata

Hoje saímos de Ouro Fino as 6h, um pouco depois do planejado. Nos enrolamos no café da manhã... conversa daqui, conta dali...e as horas foram passando.

O destino final é Borda da Mata, passando por Inconfidentes.

De Ouro Fino a Inconfidentes são aproximadamente 10km, saindo de 950 metros descendo um pouco e voltando 950 metros.

Chegando em Inconfidentes a parada obrigatória é no Bar do Maurão. Parar no Maurão vale a pena pelo pastel que está sempre sequinho...uma delícia, para saber do povo que sempre faz o caminho (por sinal, sabia que eu tinha me machucado da vez anterior) e principalmente porque ele é muito gente boa. Ele já fez o caminho 20 vezes!!!! Pode acreditar. Ele é da paz total, desta vez estava animado, nos contou que a neta dele esta fazendo Engenharia Florestal em Curitiba. Disse que o Jamil (ciclista que já fez o caminho 7 vezes) ainda não passou por lá este ano, assim como a Dona Ursulina também não.

Nos despedimos de modo carinhoso, ele nos desejou boa viagem e disse aquela frase que faz toda a diferença: "Que Nossa Senhora acompanhe vocês!". Amém Maurão, que assim seja!!!

20 km separam Inconfidentes de Borda da Mata, saíndo de uma altitude de aproximadamente 950m subindo próximo de 1.000m e voltando a 900m, numa descida que, meu amigo, é de penar!!!!
O calor, que hoje estava especialmente insuportável, somado a um terreno difícil deu o resultado esperado... um desânimo geral nos primeiros momentos.

A Celita, no primeiro dia da caminhada, estava desesperada, ela olhava o caminho e dizia: "Nos não vamos subir aquele morro lá não, ne?" Eu e a Cris decidimos não desanima-la, então a Cris começou a falar que não era para ela se preocupar, que em 2h estaríamos em Borda, e eu jurava a cada morro que subíamos que só tinham mais 3 pela frente.

Esta técnica deu certo por umas 3h, pois a gente fica tão cansado que não raciocina direito, é

engraçado, começamos a trocar a ordem das palavras na frase... essas coisas. Quando ela percebeu que estava sendo enganada..hahah, enlouqueceu, surtou...haha, começou a xingar de tudo quanto era nome...hahaha, eu e a Cris quase morremos de dar risada,... o cansaço somado ao desespero dela, só vendo pra crer.

Fizemos várias paradas durante o percurso. Não podíamos ver um banco ou uma sombra (sombra aqui é Mastercard - não tem preço), que já estávamos tirando as mochilas!!! Muito sofrido pelo calor. Este é um dos trechos mais amistosos, não imaginei que seria tão difícil.

Mas para compensar todo o esforço tem uma paisagem que é única e linda!

No meio do caminho já estávamos quase sem água, mas pelo visto isto não aconteceu só conosco, pois assim que nos demos conta que a água estava para acabar, avistamos uma placa Água Potável a 3km. E realmente, depois de 3km ela estava lá! Graças!!!

Faltando uns 10km para chegar em Borda da Mata, em uma destas nossas paradas para descanso, conhecemos um senhor muito simpático, seu João Arthur. Para ser sincera, isso é o que mais gosto do caminho, as pessoas e o que elas tem pra contar.

Ele parou e como todos perguntou o óbvio: " Vocês vão para Aparecida? Vão a pé? Tão cansado?" e na seqüência já falou, "...e, eu sei como é. Eu vou todo ano, mas não vou a pé, vou a cavalo. Eu vou sempre em janeiro, quando os meus filhos estão de férias da faculdade e vem pro sitio para tirar o leite no meu lugar." Bom, era tudo que eu precisa para começar a conversa.

O seu João Arthur tem 5 filhos homens e 1 moça, como ele diz. Todos com terceiro grau, menos o caçula que tem 15 anos. A moça é administradora de empresas e os dois mais velhos já são formados, os outros dois fazem engenharia, um deles elétrica e o outro mecânica. Disse que gasta em torno de R$4.000,00 para manter os filhos na faculdade, isso por que os meninos tem bolsa de quase 70%. O caçula de 15 começou este ano o segundo ano do médio. E nesta hora o olhinho do seu João marejou... ele disse: "...é, mas é desse que eu vou sentir mais quando ele for. Sei que tem que estudar, que faz bem e que não ocupa espaço. Mas já tenho 62 anos, há 50 tiro leite. Esse menino é tudo pra mim, é o que mais me ajuda. Aqui é tudo muito duro, os morros são de matar, não dá para mecanizar a lavoura. Se ele for embora, vai acostumar na vida boa...haaa não volta mais." O seu João é muito consciente e disse que acredita na agricultura, pois criou os 6 filhos com o dinheiro vindo desta terra, mas ele não quer tirar o direito do menor de ser doutor como os outros. Embora tema por isto, disse que consegue ajudar os filhos com o dinheiro da terra, e se ele faltar, vier a morrer, não sabe bem como os filhos doutores vão se virar. De tudo que ele falou me chamou a atenção a conclusão dele: "...todo mundo se importa só com dinheiro, deveríamos ficar felizes de sermos perfeitos... braços, pernas, etc... pois isto é difícil conseguir quando não se tem. Agora dinheiro tem bastante é só querer ganhar!" Nos despedimos de seu João. Disse a ele que vou pedir a Santa para iluminar a decisão do caçula. Ele agradeceu!!!

O caminho longo e difícil fez com que nos atrasássemos, e o Luiz, preocupado, veio nos resgatar. Mas não foi preciso... dispensamos o serviço e terminamos o caminho as 14h, em baixo de uma chuvinha leve.

O dia foi assim. Haaa, o joelho...incomodou um pouco, mas tudo sob controle!

Amanhã vamos fazer dois percursos em um dia, sendo que o percurso da tarde é de pesado!!! Vamos de Borda da Mata a Tocos do Mogi (18km) e de Tocos a Estivas (21km).

Bom deixa eu voltar pro hotel para lavar minha roupa.

Até mais...